O custo médio do chamado fit-out (design e obras de interior) de um escritório em Lisboa está atualmente nos mil euros por metro quadrado, valor substancialmente superior aos 825 euros praticados em Madrid ou Barcelona, revela um estudo da Cushman & Wakefield ao mercado EMEA (Europa, Médio Oriente e África).
A capital portuguesa apresenta também indicadores nesta área pouco competitivos face a Roma e Milão. É que o custo médio da remodelação de escritórios nestas duas cidades italianas é igual ao de Lisboa. E essa falta de competitividade agrava-se quando se comparam os preços mais altos e mais económicos.
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Em Lisboa, o orçamento mínimo para remodelar um escritório implica um dispêndio de 750 euros e um máximo de 1400 euros por metro quadrado. Já em Itália, os valores oscilam entre os 650 e os 1300 euros, respetivamente. A comparação nestes indicadores com Madrid e Barcelona também não beneficia a capital. Nestas urbes espanholas, o preço mais baixo do design e construção por metro quadrado é de 540 euros e o custo mais elevado ronda os 1300 euros.
Estes valores não deverão sofrer alterações em baixa ao longo deste ano nem, muito provavelmente, num futuro próximo. Os fatores para o aumento dos custos de construção são vários e a maioria de difícil resolução. Como aponta Matthew Smith, head of project & development services da Cushman & Wakefield Portugal, a escassez de matérias-primas, os problemas de fornecimento dos materiais e a falta de mão de obra têm conduzido a um agravamento dos preços da construção.
“Em termos reais, o custo subiu 15% a 20% ao longo do ano passado” e em 2022 “estes problemas irão manter-se”, sublinha. Esta escalada começou com a pandemia e a disrupção das cadeias de abastecimento e a guerra Rússia-Ucrânia só veio agudizar a situação. Como refere, os aumentos trimestrais foram da ordem dos 2% em 2021, segundo o Eurostat, o gabinete de estatística europeu, quando antes da crise pandémica eram de 0,5%. “Este ano deverá registar-se uma subida idêntica, de 2%”, diz.
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Em Portugal, o problema é mais crítico, porque o país “peca por ser um mercado pequeno, com menos fornecedores, logo preços menos competitivos, e isso reflete-se num valor de obra mais alto”, justifica o responsável da C&W. Um projeto de fit-out num escritório exige divisórias de alumínio e vidro, trabalhos de carpintaria, alcatifas, componentes elétricas e luminárias, produtos cujo valor no mercado não tem parado de escalar.
Acrescem “os prazos de entrega, que não são fáceis de controlar”. Segundo Matthew Smith, as obras não estão a parar, mas admite que demoram atualmente mais 30% a 40% do tempo que era habitual.
Neste momento “há muita obra de remodelação de escritórios em curso” no país (ver texto ao lado), nomeadamente porque “há falta de oferta de produto novo com condições estéticas para atrair novos ocupantes”, revela. A maioria das intervenções estão a ser realizadas pelos próprios arrendatários, tendo em conta os novos modelos de trabalho (teletrabalho e regime híbrido) que emergiram com a pandemia.
As empresas estão a apostar em espaços mais colaborativos, na redução do número de postos de trabalho fixos, a fortalecer o investimento em tecnologia e meios audiovisuais em detrimento de salas de reunião, a investir na criação de espaços lúdicos, e este novo layout mais adequado à contemporaneidade “encarece o projeto”, frisa Matthew Smith.
Ainda assim, “o mercado de escritórios no país continua muito ativo”. Nesta área, a C&W tem uma carteira da ordem dos quatro milhões de euros. Segundo Matthew Smith, “não há projetos em stand-by”, mas “se se vier a comprovar que o país entrou em recessão o cenário poderá alterar-se”.
sonia.s.pereira@dinheirovivo.pt